Entre título/corpo

04/02/2013

Poema de fevereiro


Poetas andaluzes

Que cantam os poetas andaluzes de hoje?
Que veem os poetas andaluzes de hoje?
Que sentem os poetas andaluzes de hoje?

Cantam com voz de homem
Mas, onde estão os homens?
Com olhos de homem olham
Mas, onde estão os homens?
Com peito de homem sentem
Mas, onde estão os homens?

Cantam, e quando cantam parece que estão sozinhos
Olham e quando olham parece que estão sozinhos
Sentem e quando sentem parece que estão sozinhos

Que cantam os poetas, poetas andaluzes de hoje?
Que olham os poetas, poetas andaluzes de hoje?
Que sentem os poetas, poetas andaluzes de hoje?

E quando cantam, parece que estão sozinhos
E quando olham, parece que estão sozinhos
E quando sentem, parece que estão sozinhos

Mas onde estão os homens?

Será que a Andaluzia ficou sem ninguém?
Será que por acaso nos montes andaluzes não há ninguém?
Que nos campos e mares andaluzes não há ninguém?

Não haverá já quem responda à voz do poeta?
Quem olhe para o coração livre do poeta?
Tantas coisas morreram, que não há mais nada que o poeta.

Cantai alto, ouvireis que também ouvem outros ouvidos
Olhai alto, vereis que também olham outros olhos.
Gritai alto, sabereis que palpita outro sangue.

Não é mais profundo o poeta no seu escuro subsolo encerrado
O seu canto fica cada vez mais profundo, quando aberto no ar
Já é de todos os homens

E já o teu canto é de todos os homens
E já o teu canto é de todos os homens

Rafael Alberti

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